Ontem assisti a este espectáculo no coliseu do Porto.
Em primeiro lugar, quero dizer que desde miúda gosto de música pimba. Seguia atentamente o Made in Portugal com o Carlos Ribeiro e sabia a letra de todos os êxitos nacionais, Ágata, Tony Carreira, Claudisabel, Quim Barreiros, Excesso, Mónica Sintra e muitos mais. Nessa altura havia muito preconceito relativamente à música popular portuguesa, mas eu achava simplesmente divertida. Adorava cantar em frente à televisão e fingir aquele sentimento todo e aquelas notas agudas e desesperadas, aquelas coreografias fáceis de aprender e aqueles refrões que não saíam mais da cabeça. Por isso, quando vi que finalmente alguém se lembrava de homenagear o pimba (ao contrário do que muita gente pensa, não é de gozar que se trata), eu não podia faltar. Então aqui fica a minha opinião e descrição pessoal.
Perguntei ao meu namorado por telefone: queres ir ao Coliseu ver um espectáculo de música pimba? O meu namorado, que não é difícil de convencer e alinha em tudo, responde prontamente: pode ser! Tão querido... Só depois é que perguntou, mas quem é, como é, etc. Quando expliquei melhor, que era com o Bruno Nogueira e que era uma reconstrução de algumas músicas portuguesas ficou mais entusiasmado.
Como não me pareceu que fosse o caso de investir muito num lugar bom, compramos os bilhetes mais baratos, por 8€ o prejuízo não seria muito grande se as minhas expectativas fossem defraudadas (aliás, como já me aconteceu tantas vezes com alguns espectáculos que tenho assistido). Lá fomos para o Geral sem marcação que é lá no topo bem em cima e longe do palco. Mas conseguimos lugares centrais, vá lá. O Coliseu foi enchendo, e o espectáculo começou 10 min mais tarde. Entra o Bruno Nogueira, a Manuela Azevedo, 1 violoncelista, 1 pianista e 1 músico que tocou diversos instrumentos, muitos que eu nem sei o nome...
O Bruno Nogueira mandou umas piadolas logo no início que muito apreciei e que me fez rir bastante. Bastante, mas não ao ponto de impedir quem estivesse sentado num raio de 5 lugares à minha volta conseguir ouvir também. Oh pá, é que a sério, tudo bem rir, tudo bem bater palmas, tudo bem cantar, mas o mais importante é ouvir!!! Nós já estávamos longe, não tínhamos uma visão privilegiada, a audição era ainda mais importante... Pois bem, digo-vos, as pessoas gostaram tanto e estavam tão entusiasmadas que não foi possível perceber muitas coisas que foram ditas por causa das gargalhadas estridentes e compulsivas que enchiam a sala (que na minha opinião, ok não era para tanto, e talvez até fosse se conseguíssemos ouvir até ao fim...) e as palmas em ritmos desorganizados com as vozes do público a tentar cantar por cima em praticamente todas as músicas também não ajudou. Ora, o quê que acontece? As músicas que foram tocadas em palco, melodicamente pouco ou nada têm em comum com os originais, por isso as pessoas NUNCA acertavam nos tempos! Nem com as palmas nem a cantar a letra! E a piada do espectáculo, era descobrir como é que a música que eles criaram se distanciava tantooooo dos originais que conhecíamos, e verdade seja dita, que trabalho irrepreensível. As músicas ficaram todas elas muito diferentes e muito boas! Imaginem, aquelas músicas com outra letra seriam espectaculares! Muito bem conseguido. Eu ouviria aquilo no rádio ou compraria o cd.
Outras coisas chatas, foram as bocas que o público insistia em mandar. Para terem uma ideia, cá em cima onde eu estava havia um rapaz que volta e meia, mandava uma piada (completamente desnecessária e descontextualizada) para o palco e que me fazia revirar os olhos... Mas não era só ele! Mais lá para baixo, para mais perto do palco, havia um outro que queria tanto participar que de dez em dez minutos dizia qualquer coisa, que como devem imaginar, devido à distância a que me encontrava nunca conseguia decifrar, mas pela reacção do público, não devia ser genial. Pontos ganhos na minha consideração para o Bruno Nogueira, que contornou a situação com (essas sim de verdade) piadas. Numa das primeiras vezes o indivíduo mandou uma boca qualquer e o Bruno respondeu: "Há pessoas que se sentem muito sozinhas e por isso interagem" e numa outra disse alguma coisa parecida com isto: "há um motivo para o microfone estar virado para este lado e não para esse" ahahahaha gostei!
Assistimos ainda à participação do Camané. Como é que isto foi? Era uma projecção do Camané, onde se via ele, em frente a um microfone a fingir que estava farto de estar à espera e contrariado por participar, o Bruno diz-lhe umas coisas, depois os músicos tocam enquanto ela canta. Não gostei muito, porque foi a única música que eu não conhecia, ele transformou-a numa música tipo fado, falava em morrer e a mim não me entusiasmou. Também não achei grande piada àquela encenação dele todo mal disposto e com pressa de ir embora. Nada de especial.
Mais tarde, entrou em palco o Marante para cantar com eles. O Marante é aquele dos Diapasão, que canta eu sei eu sei és a linda portuguesa com quem eu quero casar lá lá lá... Achei muito boa onda ele ter aceite o convite e só demonstrou que compreendeu a intenção do espectáculo. Agora, vou dizer-vos uma coisa que o senhor disse e que me fez pensar. Ele agradeceu a oportunidade de colaborar com eles e actuar numa casa como o Coliseu. E eu pensei para mim, que talvez ele nunca tivesse actuado numa sala cheia com o peso e a importância do Coliseu. E depois tentei recordar-me se alguma vez tinha visto um cartaz a anunciar um concerto dos Diapasão no Coliseu, e posso quase jurar que não! E que o mais populocho que me lembro de saber que daria um concerto no Coliseu foi o Tony Carreira. Nesse momento, tive um sentimento de admiração e consideração pelo Sr. Marante, pela humildade e honestidade das suas palavras e atitude reveladora de inteligência ao participar em palco. Mas também tenho que dizer que não se percebe patavina do que ele diz a cantar, junta as sílabas todas, só se percebe manamenamenemanaaaaaaaaamenaaaaaa mais ou menos isto, mas depois no refrão é outra coisa! Canta aquilo a pulmões cheios! Ah e ao lado do Bruno era engraçado porque ele é muito pequenino então dava abaixo do ombro do outro!
Depois foi a vez da Ana Moura. Foi fixe, cantou lá duas musicas transformadas em fado.
E ainda tivemos o Nuno Markl, que disse umas piadas e cantou umas musicas que não se percebia nada e através de uma aplicação no telemóvel reproduzia-as de trás para a frente e o resultado era o refrão de algumas músicas pimba muito conhecidas. E mostraram uma projecção que dava a ideia de ser ele por detrás da tela a fazer um strip. Um bocado fraquinho na minha opinião, mas claro está, foi a minha particular opinião porque as pessoas riram-se muito.
Gostei muito de uma música que se chama Emigrante acho eu, que transformaram em rap e de umas outras que o instrumental me fazia lembrar os Portishead. A Manuela Azevedo também esteve excepcional, cantou e tocou muito bem vários instrumentos musicais, dançou, esteve óptima. Foi muito giro e fartei-me de rir, quando já no fim ela cantou uma música do Quim Barreiros que se chama Os animais da quinta, porque era uma música tão improvável de ouvir na voz da vocalista dos Clã!
Resumindo, fiquei bem satisfeta com o que vi, achei muito divertido, saí muito bem disposta e creio que estão de parabéns porque fizeram um trabalho muito original e de excelente qualidade. E fiquei a saber que o Bruno Nogueira até não canta mal e toca bem instrumentos de percussão.
Recomendo!